terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

2º Dia - Beirut

Acordo por volta das 6h30 onde tomo um banho rápido. Deparo-me com os trabalhadores sírios do hostel que dormitam profundamente no chão. Tento não pisá-los e saio do hostel em direcção ao centro de Beirut.

As primeiras impressões foram os três velhinhos que se encontravam sentados dentro do prédio que me disseram um Bonjour sorridente.

Reparo no estado do prédio à frente do hostel, que já viu melhores dias :


Viro à direita no cruzamento e dou de caras com um militar segurando uma metralhadora ( a companhia mais presente em Beirut ). Saí-me um "Bonjour", ao qual ele retribui com um aceno com a cabeça. Vou continuando na mesma rua até à mesquita azul de Beirut. Na cidade, poucas pessoas estavam acordadas e só alguns carros.



A cada virar de esquina, Beirut ia-me espantando. Parecia um japonês devido aos repetidos "ohh!" que iam soltando à medida que ia caminhando. O primeiro grande "ohh" foi dado ao deparar-me com a loja da Ferrari ao lado da mesquita azul. Ferraris para todos os gostos : amarelos, vermelhos, pretos, azuis..

Ao lado da mesquita, uma igreja católica maronita e uma igreja grega ortodoxa, ambas fechadas a sete chaves, partilham o centro da cidade onde chegam os carros vindos do norte de Beirut.


Ao lado da mesquita azul, meio abandonada e sem algum brilho, a estátua da Place des Martyrs simboliza os libaneses nacionalistas mortos pelos turcos em 1916 durante um bloqueio pelos Aliados na I Guerra Mundial. Esta praça é utilizada para protestos e motins como os sucedidos em 2005 e 2007, contra a presença militar Síria em território libanês e protestos do Hezbollah, respectivamente.

Chego ao Downtown de Beirut e um "ohh" para a quantidade de segurança no bairro que comporta o Parlamento, embaixadas, cafés e restaurantes chics, lojas de luxo europeu e o porto. Eles são militares, eles são polícias, eles são seguranças à paisana, eles são segurança de headphones e comunicador, eles são Hezbollah, eles são tanques, eles são militares nos terraços, eles são seguranças de parques de estacionamento, eles são pequenos bunkers com bandeirinhas do Líbano, eles são militares nas janelas...


O que é contraditório nesta cidade é o luxo ao lado da destruição. É o sectarismo religioso evidente em todo o lado. É os USD ao lado das libras libanesas, o francês ao lado do árabe, os jeep luxuosos, os milhares de Mercedes e BMW nas ruas anárquicas, os sinais que ninguém respeita.

Ao longo da manhã fartava-me de ouvir apitos de buzinas de carros. Os libaneses nos seus carros apitam para tudo o que é sítio. É sinónimo de "eu vou passar", ou de "eu tou aqui, cuidado", ou "atenção, vais-me bater". Todavia, percebi outro sinónimo dos apitos constantes e frenéticos. Diga-se de passagem que,  a quantidade de pessoas que andam pelas ruas conta-se pelos dedos, só os turistas e os pobres. Então, os apitos que ouviam eram dirigidos a mim! Cada taxi, service, bus que passava por mim apitava-me para me levar com eles! Dezenas de vezes disse que não com a cabeça ou oralmente ao qual os condutores seguiam o seu trajecto. Alguns, mais simpáticos, acenavam-me com a mão.

Continuo a andar até à beira mar. Reconstrução de edifícios são como as formigas. Parece que a cidade quer cozer com linhas de ouro as inúmeras feridas de 15 anos de guerra civil mais as guerras com Israel. Prédios, hotéis à la americana nascem ao lado da destruição.


Depois do primeiro choque, estava decidido : "vou ao museu nacional". Páro o primeiro taxi, e diz-me ele assim : "Preço especial para si. Acredite que o preço é especial. Do fundo do coração. 10 USD". Respondo-lhe um "Não, obrigado". Ao segundo taxi que paro na rua, acordámos 5 USD para me levar ao museu.
Não demora muito até eu perceber que o condutor não tem a mínima ideia da localização do museu. Paramos em vários locais, na rua, hotéis, ministérios, bairro muçulmano, postos de segurança. Meia hora depois, lá estava eu no museu.

Troco palavras em inglês, francês e espanhol com a senhora da recepção do museu. Gentilmente, ela troca-me USD em libras libaneses e da-me redução de estudante. O museu, em si, traduz a história do Líbano onde lado a lado, vestígios de todas as civilizações que por lá passaram partilham o mesmo espaço. Uma visita guiada para crianças de uma escola privada era dado em francês com expressões em árabe pelo meio.


Depois de tomar o pequeno almoço num café modernaço, encontro o Centro Cultural de Beirut em reconstrução, em parceria com a cidade de Paris.


Um pouco mais em baixo, encontro a Igreja Arménia. 5 seguranças aproximam-se de mim e dão me permissão para entrar na Igreja. Encontro-a vazia, nenhuma alminha lá. Uma igreja completamente renovada, com um altar fabuloso e uns frescos deveras impressionantes.

Almoço no Le Chef, uma tasquinha frequentada por libaneses e alguns estrangeiros, um homos aux champignons e aubergines com arroz seguido de um mhalabié e o chá.


De seguida, para aliviar o peso da mala, fui levar o presente prometido a um amigo de um amigo. Um computador para crianças que veio comigo para o Líbano. Andei meio perdido até encontrar a pessoa certa. Engenheiro civil na obra, tive oportunidade de cumprimentar todos os engenheiros e presenciar a construção de um prédio de 24 andares com os seus 60 trabalhadores em permanência.

Missão cumprida, tempo para um passeio na rua do comércio Gemaizé. Peço permissão para tirar esta foto :


Belo dia para estar esparrapachado na sua varanda!

Contínuo até à estação de bus Charles Helou para tratar da minha ida para a Síria no dia seguinte. Troco dinheiro num cantinho meio mafioso mas a uma taxa impecável. Chegado à estação, uma dúzia de taxistas e condutores : "Alep ? Damascus ? Amman ? Petra ? Turkey ? Antakya ? Byblos ? Tyr ? Baalbeck ?".
Lá consigo encontrar que fala inglês e me diz o horário do bus para Alep.



1º Dia - Beirut


Tudo começa na véspera com uma lista "a não esquecer" que incluía :

- Paracetamol
- Desinfectante
- Pensos
- Caixa de óculos
- Pastilha diarreia ( super úteis by the way )
- Papel higiénico
- Contactos embaixadas
- Morada na mala
- Lista de estação bus e afins
- Valor das moedas
- Fotografias para eventuais vistos
- Dinheiro em cash
- Etc..

Vou a pé para Denfert-Rochereau onde entro no Orly-Bus em direcção ao aeroporto de Paris-Orly. Dirigo-me para o check-in, onde o visto da Síria dá direito a várias inspecções do meu passaporte.

A primeira impressão de Orly é que é um aeroporto do Maghreb. Inúmeros voos com destinações de Agadir, Marrakech, Tunis, Fez, Alger, Tanger e mesmo outras que nunca tinha ouvido falar!

O meu voo faz escala em Istanbul, antes de aterrar em Beirut. Sou o único latino neste voo, já para não falar em português.



Sou surpreendido pelo anúncio de segurança da Pegasus Airlines que merece ser visto e revisto aqui :


Chegado à Turquia, começa a dança : "Have you ever been to Isrrrrrrrrrrrrrrael ?"
- "No, never!"

À minha frente, na porta de embarque, um senhor começa a tirar os ténis. Vira-se para Mecca e começa a rezar e a beijar o chão do aeroporto.

Conheço dois libaneses que, surpresos por me verem viajar sozinho, me explicam o sistema de transportes no Líbano : "Então é assim, há os taxis e os services. Os taxis podem ser taxis e também podem ser services. Os services só podem ser services. Todavia, todos eles tem uma placa de taxi em cima do carro". Ok, isto começa bem...

Calho ao lado de uma francesa que vai a viagem toda a maquilhar-se e a ver-se ao espelho. Se calhar enganou-se no avião, penso eu para os meus botões..

No avião, atiram-me com um papelinho para preencher. Vim a saber que era para os serviços de fronteiras do aeroporto. Nome, apelido, nome do pai, da mãe, profissão, motivo de visita, local de estada etc.

Depois da turbulência em Famagusta, aterro no aeroporto internacional Rafik Hariri, este, morto em Fevereiro de 2005 num ataque à bomba.

À minha espera estava o Hussam do hostel com uma plaqueta engraçada. Metemos-nos no taxi dele e comecei a perceber as leis ( ou falta delas ) da estrada no Líbano. Uns sinais vermelhos depois, contra-mãos, apercebo-me da destruição do bairro e do lugar sombrio que contrastava com a rua dos discotecas.

Vou para um dormitório onde estão um casal de americanos, rejeitados na fronteira com a Síria.
Adormeço profundamente debaixo dos lençóis do Mickey.






terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O Médio Oriente


O Médio Oriente ( Middle East ) é um termo oriundo do British India Office, embora este, seja mais conhecido pelo emprego em 1902 do Americano Alfred Mahan, onde este referia o local físico entre a India e a Arábia. Foi ele a perceber o valor estratégico desta região para impedir os Russos de chegar à India.

Para bem definir a região e o termo, o Médio Oriente, como o conhecemos hoje, é composto ( ver figura ) pelos seguintes países : Egipto, Síria, Turquia, Oman, Emirados Arabes Unidos, Yemen, Irão,  Israel, Líbano, Jordânia, Iraque, Arábia Saudita, Kuwait, Bahrein e o Qatar.

Claro que outras definições mais modernas, como o Grande Médio Oriente, poderiam incluir países como Marrocos, Tunísia, Líbia e Argélia, bem como incluir outros mais a este, como o Cazaquistão, Uzbequistão,  Afeganistão, Paquistão, entre outros.

Aqui no blog, ficarei pela definição clássica do termo "ocidentalizado" do termo Médio Oriente.


Introdução

Antes de mais, bem-vindo (a).

Este blog tem como simples e humilde propósito de contar de uma pequena viagem pelo Médio Oriente feita nos princípios de 2011, ano de ressaca de crises económicas, sociais, políticas e religiosas.

Não será este o local para obter uma informação detalhada sobre o difícil e sempre melindroso conflito que opõe os povos que habitam na região do Médio Oriente.

Não será este o local para encontrar as mais belas produções fotográficas devido à inabilidade do próprio narrador com a sua câmara fotográfica.

Não será este o local onde encontrará uma análise imparcial, justa e ponderada pois cada ser humano tem sempre um espírito crítico sobre o que rodeia, influenciado pela cultura e o meio social donde provém.

Não será este o local de uma voltinha nas Arábias com uma agência de viagens quão rebanhos bem comportados.

Não será este o local para conselhos de hotéis românticos e de luas de mel pois não só o autor viaja só mas também o faz com dinheiro contado.

Depois disto, sejam bem-vindos!